O Desafio de micorrizas





𝘐𝘯𝘵𝘳𝘰𝘥𝘶çã𝘰:



Micorrizas formam uma das simbioses mais generalizadas do planeta, pois compõem uma interação fúngica e plantas com quase oitenta por cento de todas as plantas terrestres. O mycorrizae residente beneficia de uma parte dos açúcares de carbono produzidos durante a fotossíntese, enquanto a planta acessa efetivamente a água e outros nutrientes, como nitrogênio e fósforo, crucial para o seu desenvolvimento. Essa simbiose torna-se tão benéfica para plantas terrestres que dependem inteiramente da relação para se sustentar em seus repetitivos ambientes. Os fungos são essenciais para o planeta na maioria dos ecossistemas, particularmente em sítios degradados. Por causa da sua importância para um ecossistema produtivo e resiliente, compreender este fungo e suas simbioses é atualmente uma área ativa de pesquisa científica.





𝑵𝒆𝒔𝒕𝒆 𝒅𝒆𝒔𝒂𝒇𝒊𝒐 vamos concentrar no aspeto prático, a aplicação de micorrizas no terreno, a escolha de cogumelos para as diferentes espécies arbóreas e a criação dum caldo caseiro de micorrizas. Para simplificar a abordagem ao vasto mundo das micorrizas, procuramos os cogumelos que crescem debaixo das árvores caducifólias. Quem quer criar uma floresta mais resiliente tem que colecionar estes para fazer um caldo caseiro. Entre eles são muito importantes os Sclorodermas (bolas de terra) e Pisolithos, pois são fungos pioneiros, contribuem ainda mais para a instalação da árvore, contêm uma enorme quantidade de esporos e crescem em tempos mais secos. Da maior importância também é a Amanita muscaria, bem conhecida por seu chapéu vermelho. Este cogumelo liga-se com muitas árvores, mas particularmente com bétulas.


𝑭𝒂𝒛𝒆𝒓 𝒖𝒎 𝒄𝒂𝒍𝒅𝒐 𝒅𝒆 𝒎𝒊𝒄𝒐𝒓𝒓𝒊𝒛𝒂𝒔 é simples. Os cogumelos coletados são colocados num recipiente e triturados. Adicione água. Feito. As respetivas quantidades dependem do resultado desejado, da quantidade de árvores em que se quer aplicar. O caldo deve ter uma cor escura até quase preta. Nem sempre o mais é melhor, mas neste conceito não há preocupações. Pode criar o caldo de micorrizas com os cogumelos frescos, mais envelhecidos. Usa a água de lavagem dos cogumelos e os restos dos cogumelos que é micélio ainda com potencial de replicação, devolvendo para a floresta. Para lembrar: nem apenas os esporos são usáveis, mas também cogumelos inteiros. Num evento, publicado no Público, a associação SOS Arganil pretende realizar uma ação de reflorestação com ajuda de cogumelos. Duas empresas de cogumelos vão participar com uma oferta de cogumelos, provavelmente com sobras da produção.


𝑶 𝒆𝒙𝒑𝒆𝒓𝒊𝒎𝒆𝒏𝒕𝒐 𝒅o 𝑴𝒐𝒗𝒊𝒎𝒆𝒏𝒕𝒐 𝑮𝒂𝒊𝒐: Após os mega incêndios que fustigaram a Serra da Freita em 2016, e no cumprimento de nosso objetivo particular, a Recuperação de Sítios Desertificados, estivemos confrontados com um obstáculo. Os pinhais estavam quase todos completamente calcinados. Para mudar o paradigma e criar uma floresta mais resiliente, tencionamos rearborizar estes espaços com árvores folhosas como, carvalhos, sobreiros, bétulas, medronheiros. Mas como estivemos em frente de uma área pedrosa e pinhal ardido, o solo não continha micorrizas adequadas para árvores folhosas. O tempo urgiu. Realizamos com mais de cem voluntários a primeira plantação. Depois criamos um depósito de água de 28000 m3 acima nesta plantação. Compramos na loja online da empresa "Glückspilze" Mycorrhiza Soluble. Investimos €377. Colocamos as micorrizas no depósito meio cheio e realizamos uma série de regas à manga durante o período primavera/verão 2017. Sempre enchemos as caleiras a ponto de transbordar. Os resultados são excelentes, em seguida as mudas cresceram aceleradamente. Hoje atingem o tamanho de dois metros. Aonde a mangueira não chegou, as plantas são fracas. Apesar disso colocamos mulching à volta das plantas. Na nossa opinião, inocular micorrizas nas bolotas é uma medida pouco eficiente, pois afeta o solo à volta da planta apenas quando esta está mais crescida. Hoje não compramos micorriza, produzimos o nosso próprio caldo.


𝑶 𝒅𝒆𝒔𝒂𝒇𝒊𝒐 consiste em propagar este conceito, convidar todas as associações e projetos que se dedicam às plantações da floresta autóctone em Portugal para aplicaram esta ideia, este conceito sensato. Até deve fazer parte do conceito da Agricultura Sintrópica. Conhecemos plantações feitas com muita empenho (numas participamos) que falharam por falta de micorrizas adequadas. Numa plataforma digital, os intervenientes devem partilhar ideias, fotografias, publicações e experiências próprias entre eles. O acompanhamento científico deve ser feito pelas universidades.


#quercus

#criarbosques

#PlantarUmaArvore

#PlantarOFuturo

#CRE.Porto

#ZERO

#plantarportugal

#Montis

#geota

#CabecoSanto

#FlorestaComum


Para saber mais seguem ligações Importantes:


Susanne Simard, How trees talk to each other

Camille Defrenne, Susanne Simard, The secret language of trees
Mycoforestry

Back to Roots: The Role of Ectomycorrhizal Fungi in Boreal and Temperate Forest Restoration

John Dighton, Beneficial fungi in the forest and impacts of pollution

Nemonte Nemquime, The forest is our teacher. Its time to respect it





O pastor Manuel com o seu rebanho nas cinzas





Por Bernardo Markowsky





O pastor Manuel com o seu rebanho de ovelhas no monte, aldeia de Venda Nova, destrito de Montalegre, disse-me: "Tivemos de fugir neste grande incêndio de há poucos dias." Ele faz um gesto vago para a esquerda, em direção à mata. Seu rosto estava deprimido, falava baixinho. "As pessoas daqui suspeitam dum jovem casal, mas eu não acredito nisso. Acho que são os gajos das motocross. Jovens sem nenhuma ligação com a terra."
Passado um certo tempo vi-me perdido na negra floresta e encontrei uma cerca, a porta chamuscada da casa de Manuel. Imaginei-o com o seu cão pastor e as suas ovelhas, bem ali, com as cores vibrantes, como uma montagem num fundo plano e sombrio. Uma imagem poderosa! Vagueei por esta paisagem carbonizada durante hora e meia, antes de encontrar o caminho de volta para o que era vivo; os pássaros cantavam de novo e ouvi a melodia do vento nos pinheiros.
Em Paredes, uma pequena aldeia abandonada, o Sr. Jorge contou-me: "Isto é uma guerra civil em que as vítimas não têm nenhumas armas. Há uns dias estive no Gerês e voltei chocado. Tive que parar o carro por causa de um fogo intenso e vi um bando de jovens corços saindo a berrar para fugir do fogo, cheios de medo, sem as suas mães. Mas o mais terrível foi ver como eles paravam aturdidos e viravam-se a correr para novamente entrarem no fogo, procurando por suas mães. Nunca vou esquecer. Não precisamos de aviões de combate franceses, espanhóis, eu não sei mais quê... Precisamos de leis que proíbam que a terra queimada possa ser vendida. Precisamos de uma investigação criminal eficaz e um sistema judiciário eficaz. Precisamos de um governo com inteligência e acima de tudo: educação e formação para a juventude, repovoar e populações nas aldeias agrícolas. Há uma grande quantidade de terras abandonadas e muito trabalho a fazer."
Será que realmente precisamos duma sociologia sobre incêndios, como me disse um ambientalista? Não sabemos o suficiente desta sociedade em que vivemos? Uma sociedade parada, silenciosa e muda, uma sociedade estacionária, ansiosa, empurrada para uma esquina, uma sociedade muito particular que só se preocupa com assuntos particulares. É dito que cada povo tem o governo que merece. Mas a verdade é que o peixe começa a feder pela boca. Um governo que está ausente nos momentos de perigo por causa de férias invioláveis. Que só sabe apenas lançar pronunciamentos inúteis e absurdos que merecem toda a nossa rejeição.
E nós, o que devemos fazer? Vamos ficar de braços cruzados e cabeças baixas, os olhos bem protegidos com óculos de sol? Significa após o fogo ainda antes do fogo?
O terceiro poder, os jornalistas, os escritores, os fotógrafos devem emprestar a sua voz ás pessoas, que sabem falar muito bem, mas não são ouvidas. Têm de perseguir os líderes com perguntas diretas e insistir em respostas concretas.

Aqui permanece uma pergunta aos cientistas: É possível calcular a emissão de CO2 na atmosfera causada pelos incêndios? Isso seria um caso para ser punido pela Comissão Europeia.
Acho que é urgente formar um movimento ciívico para a vida, que reúna informações profundas, relatos de testemunhos, opiniões e sugestões para combater esta praga dos nossos dias, neste país em que vivemos.

Vila Nova de Gaia, Agosto 2010



Sem misericórdia





por Bernardo Markowsky



Nestes dias ouço muitas vezes estas palavras ditas em relação aos fogos postos.
«Se apanho um destes malditos, vou matá-lo, de certeza absoluta”» disse o meu merceeiro, um tipo verdadeiramente calmo. «E se fosse um parente seu»? –
«Também o matava, sem nenhuma misericórdia.»
Confesso, que também em mim já apareceram desejos deste género, quando vi a destruição, o fim da beleza, do encanto da natureza e enfrentei o dissabor e o cheiro do fim do mundo, causado pelas chamas. Doeu e muito me revoltei.
Com certeza, aqueles que atiçam fogos atuam sem nenhuma piedade e por isso não merecem misericórdia, mas nós, as vítimas merecemos. Os incendiários têm de ser julgados e condenados com a nossa comparticipação, quer dizer, nós temos o direito de ser informados durante todo o processo. Só assim temos a possibilidade de aprender, o que está a acontecer e lançar perguntas.
Os responsáveis devem de entender, que o direito da informação sobre este assunto, que toca a sociedade em si, é um direito fundamental da democracia.

Até hoje temos de sofrer e reclamar a falta dela. E não ajuda em nada, quando o ministro para os assuntos internos à frente das chamas diz que já temos leis suficientes para punir os fogos postos. Leis de protecção dos bens comuns e privados, que não são cumpridas e executadas, pouco merecem os seus nomes, têm mais semelhanças com permissões.
A sentença de morte não está ao nosso alcance, a constituição democrática proíbe-a e com muita razão. Não devemos chamar os espíritos, que ninguém sabe controlar; o excesso e o abuso esperam já. O desejo surge meramente do sentido de desamparo e tem uma ligação muito mais forte com a destruição, do que nós pensamos. Jovens perdidos no labirinto da modernidade têm o mesmo sentido de desamparo. E sentem a destruição à sua volta.

Quarteirões de prédios erigidos num instante como termiteiras, que têm nomes como «Pinhais do Douro», «Jardins da Arrábida», «Encostas Verdes» e por aí fora, fazem-me pensar. Por um lado apontam para o que está banido, por outro lado dão uma instrução secreta sobre a direcção do desenvolvimento, que nós sofremos actualmente. Já para não falar sobre um dos maiores e recentes
escândalos: a construção dum monstruoso hipermercado (o maior da Europa!) no meio dum espaço verde protegido e todas as circunstâncias relativas a isso. Os projectistas, os seus ajudantes, escondidos e conhecidos, os executantes não só ficaram livres e intocáveis, mas além disso com lucro, que tende a desculpar tudo para muitos.

Este caso podia ser, como outros, brevemente branqueado da consciência pública, mas irá ficar inesquecível na escuridão dos rumos e na inconsciência colectiva.
Porém certos gestos de repulsa, da desintegração, como passar por uma floresta na auto-estrada e atirar cigarros acesos pela janela do carro com uma grande gargalhada, como já testemunhei, são pouco perceptíveis e merecem ser denunciados. E não esquecer os montes de lixo deitados frequentemente nas entradas das zonas florestais.

A limpeza tem de ser muito maior, temos de limpar muito mais do que as matas!
Principalmente, como cidadãos somos co-responsáveis!


Vila Nova de Gaia, 1 de Outubro de 2010